Quinta-feira, 14 de Agosto de 2014

Vão trabalhar, malandros!

Já há membros dos Espírito Santo a passar dificuldades

Como alguém disse, é uma excelente oportunidade para saírem da sua zona de conforto e irem brincar aos pobrezinhos...
Ou então porque não experimentarem ir trabalhar?
Pode ser que até gostem.
Há-de ser custoso...

 

publicado por Mário Pereira às 13:01
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Apetecia-me atirar o Magalhães ao chão...

CDS diz que crescimento da economia portuguesa é 'muito positivo'

E eu digo que não dei por crescimento nenhum.
Mas, enfim, como diz o outro, o que interessa é que o país esteja melhor, a vida das pessoas que se lixe.
Mas numa coisa estou de acordo com o Magalhães:
“Esta [...] notícia [...] é mérito das empresas, dos empresários, dos trabalhadores portugueses".
E não do desgoverno.
Pelo menos não se enfeita com penas de pavão.
Já agora, será que este Magalhães é tão resistente como o outro?
Ou seja, que se pode atirar ao chão sem se partir?...

publicado por Mário Pereira às 12:33
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Terça-feira, 12 de Agosto de 2014

Nasci refugiado

Tamer, 11 anos, tem um sonho. Quer ver o mar, o Mediterrâneo, a apenas 40 km de distância, mas inacessível do outro lado do muro israelita.

Pai do Tamer:
“Nesta terra há coisas por que vale a pena viver.
A hesitação de Abril.
O cheiro do pão fresco de madrugada.
A opinião de uma mulher sobre os homens.
O início de uma história de amor.
Erva numa pedra.
E o medo que inspira o levantamento contra os conquistadores.
Nesta terra há coisas por que vale a pena viver.
Os últimos dias de Setembro.
As horas de sol na prisão.
O aplauso da multidão àqueles que avançam para a morte a sorrir.
Nesta terra há coisas por que vale a pena viver.
Nesta terra, está a amante de todas as terras,
a mãe dos prelúdios e epílogos.”

“A minha história é a história do meu pai e a história de toda a gente aqui.
O meu país é um sonho.
Como podemos viver sem sonhos?
Não gosto de me queixar.
Gosto de viver e pronto.
Não tenho medo de nada, mas estou magoado e é normal porque eu vivo sob ocupação e não sou livre.
Chamo-me Tamer e tenho 11 anos.
Sou palestiniano, nascido numa família de refugiados.
Por isso também sou refugiado, sou refugiado desde que nasci.”

“A minha história começa em 1948, em Ras Abu 'Ammar, quando o meu avô foi expulso da sua aldeia.
Tiraram-lhes as casas, por isso tiveram de viver nas montanhas.
Chamaram campo a esse sítio e o nosso nome tornou-se 'refugiado'.
Hoje, 65 anos depois, ainda somos refugiados e ainda vivemos nesse campo.
Em Dheisheh vivem 13 mil pessoas, em menos de 1 km2.”

Tamer e um amigo fazem uns desenhos toscos no muro.
“- Sally, anda.
- Olha, aqui fazemos assim.
- Olha, aqui há um buraco.
- Pronto.
- Aqui é Belém. Isto é Nablus. E isto é o Mar Morto. Não, isso é no norte.
- Não, rapaz. O Mar Morto é ao pé de Jericó.
- Enganei-me, é aqui. Não podemos visitar nenhuma cidade do outro lado do muro. É proibido. Estão ocupadas por israelitas. Depois de Nablus tiraram-nos as melhores cidades. Tiraram-nos Jaffa e Haifa. As cidades mais bonitas ao pé do Mediterrâneo.”

“Dizem que construíram o muro por razões de segurança. Mas no fim, estamos numa grande prisão. Quero fugir do campo para ver o Mediterrâneo, o grande mar, aquele com que sempre sonhei. Quero andar na praia, sentir o ar fresco na cara, ir pescar com o meu pai, mas sei que é praticamente impossível.”

Tamer conversa com outros rapazes:
“- Lembras-te do Sa'ab, o tipo dos falafels que foi detido no campo? Como é que o apanharam?
- Os soldados israelitas foram à loja dele uma tarde.
- Acho que nem iam fardados. Estavam vestidos como nós.
- Fizeram o mesmo ao Said.
- Estão habituados a bater em pessoas com as espingardas e a levá-los.
- Então levaram-no do campo e ninguém sabe o que lhe aconteceu.
- Lembra-me o que aconteceu com o meu pai. Estava preso há quatro anos, mas no fim da pena foram juntando meses e meses e acabou por ficar mais um ano. Espero que vão para o inferno.
- Não digas isso. O que dirias se a tua família não te tivesse explicado a situação? Se tivesses sido criado em Israel não agirias como eles e ias odiar-nos?”

“O meu pai é um homem que tenta sempre proteger-nos e dar-nos tudo o que queremos. Acho que nem consegue proteger-se a si mesmo. Quando olho para o meu pai, às vezes quero lutar como ele lutou. Quero ser o guerreiro que ele foi. Adorava proteger a minha família, lutar pelo meu país e a nossa dignidade.”

O pai vê as notícias:
“Na provîncia de Alepo, na Sìria, a resistência está cada vez mais forte. Após um assalto pelas forças armadas, as bombas e artilharia pesada dos rebeldes podem ser ouvidas a grande distância de Tal Rifaat.”

O pai:
“É difícil.
Alguns de nós... não tiveram infância.
Darei o meu melhor para os meus filhos não passarem o que eu passei.
Eu não tive infância.
Não me foi permitido.
Não tive um desenvolvimento humano normal.
A primeira vez que fui detido tinha 15 anos.
Fui torturado e preso durante quatro anos.
Os miúdos palestinianos sofrem com as condições de vida.
Devido à ocupação, ficam obcecados com a política muito cedo.
Eu não digo ao Tamer, que tem 11 anos, para agir como um homem.
Quero que ele se comporte como um miúdo de 11 anos.
Quero que tenha a vida de um miúdo de 11 anos.
Estou sempre com medo por ele.
Estou sempre a imaginar coisas terríveis.
Tento esquecer-me, vezes sem conta, que amanhã o Tamer pode ser um mártir.
O sonho dele é ver o Mar Mediterrâneo, mas não o posso levar lá.
Como palestinianos, temos de pedir autorização para passar o muro.
Ninguém se pode movimentar sem autorização.
Mas não acho que o sonho do meu filho seja invulgar ou impossível de cumprir.”

Agora a mãe do Tamer:
“No início vivíamos numa divisão única, com uma pequena cozinha e casa de banho.
Um pequeno quarto com cozinha e casa de banho, era a nossa casa para o Nader, Ru'a e eu.
Mais tarde as Nações Unidas vieram visitar-nos.
O espaço era horrível, ninguém devia viver ali.
Graças ao apoio de amigos e familiares, conseguimos um bocado de terra onde construímos a nossa casa.
A vida era difícil.
E começámos a construir a casa com as nossas mãos.
Trouxemos umas pedras, pouco a pouco, e levámos quatro anos para acabar o trabalho.
Graças a um amigo nosso, o Nader arranjou trabalho em Belém.
No início ele não queria ir trabalhar para o hotel.
Ele não gostava da ideia e quase recusou o trabalho, porque há muitos estrangeiros e muitos problemas no hotel.
Não tinha a certeza se devia aceitar, mas não tinha opção.
Finalmente aceitou, por causa das necessidades das crianças, necessidades diárias, como roupa e comida.
Mas também as minhas necessidades pessoais, de poder viver como todas as outras mulheres no mundo.
As mulheres palestinianas põem sempre as necessidades dos filhos à frente das delas.
Não gostamos de desfrutar da vida à custa dos nossos filhos.”

O pai pergunta ao filho:
“- O que queres ser quando fores grande?
- Um soldado palestiniano!
- Só fui uma vez a Ras Abu 'Ammar.
- É bonito?
- Muito bonito. Há árvores por todo o lado e muito espaço.
- E fica só a 25 km daqui?
- Sim, só a 25 km, mas não podemos ir lá.
- Mas se, por exemplo...
- Não podes ir.
- E quando for mais velho?
- Mesmo quando fores mais velho não podes ir lá, porque os israelitas dizem que a terra é deles. Eles puseram-nos neste campo.
- Este campo é um caixote de lixo.
- Não é um caixote de lixo, é um sítio para refugiados, para aqueles que foram expulsos da sua terra. Entendes?
- Devíamos atirar-lhes pedras.
- Ouve, o nosso objectivo não é matar pessoas, entendes? Não os devemos magoar. Mas a política da ocupação é complicada e por vezes empurra-nos para a violência. Quando o teu avô tinha 65 anos foi morto quando ia comprar pão e leite.
- Porque foi morto?
- Naquele dia havia recolher obrigatório. Depois de ter tomado banho e feito a barba disse: 'Estou farto disto, vou comprar pão e leite.' E nunca mais voltou.”

O pai conversa com um amigo:
“- Gostava de tê-lo mantido em segredo dos miúdos o máximo de tempo possível. Até nos darem autorização para partir. Vou e concorro amanhã. Temos de lhes dizer a razão para irmos e o sítio exacto para onde pensamos ir.
- As crianças estão muito entusiasmadas com esta aventura até ao mar. O que vais fazer lá? Castelos de areia?
- Todos precisamos de calma para pensar, especialmente com uma vista tão bonita.
- Na praia pensamos nas coisas que nos deixam felizes.
- Talvez ver o mar agora, aos 42 anos, me faça sentir com 16 anos outra vez. A minha mulher também sonha com este momento.
- Ela disse-te o que gostava de fazer quando lá chegassem?
- Ela disse que podíamos correr na praia como nos filmes românticos.
(Riem-se os dois às gargalhadas e dão uma palmada na mão um do outro)
- Espero que tudo corra bem amanhã e consigamos a autorização.
- Deus queira.”

Tamer:
“O grande mar fica apenas a 40 km de distância. O meu pai está a tentar conseguir autorização há dois anos, mas nunca conseguiu. Aprendemos a ser pacientes e a lutar pelo que está certo. Hoje, mais uma vez, esperamos uma resposta.”

Conversa entre garotos:
“- O pai do Said trabalha em Israel e vive numa casa bonita.
- Onde trabalha o pai do Said?
- Em Israel, trabalha na construção.
- Eu nunca vou trabalhar em Israel, nem por uma casa bonita.
- O que queres dizer?
- Por exemplo, imagina que vais à tua antiga aldeia e constróis uma casa para os israelitas, no sítio onde era a tua casa. Chamas a isso trabalho? Para mim é uma ofensa.”

Tamer:
“Os colonatos aumentam todos os dias. Eles continuam a destruir as nossas casas, para construírem na nossa terra. Hoje estamos rodeados, como presos numa armadilha.”

A família come à mesa e Tamer diz à mãe:
“- Os teus falafels são deliciosos.”
Todos se riem e o pai diz:
“- Podias vendê-los por um shekel cada. Posso fazer-te uma pergunta? O que pensas da ideia de ir para o estrangeiro?
- Seria óptimo. Podíamos respirar um ar diferente.
- Um ar diferente? E o que mais?
- Seria uma mudança de atmosfera. Uma coisa do género. Podia ver outro tipo de vida, diferente daquele em que vivemos.
- Ahmed, o que achas? - pergunta o pai.
- Para onde queres viajar? Para a Alemanha? - pergunta agora a mãe.
- A sério, para onde queres viajar?
O filho mais novo ri-se e não diz nada.
- Eu digo-te para onde vamos viajar, até à entrada do campo. - diz-lhe a irmã mais velha.
Tamer:
- Mesmo se viajares pelo mundo, só podes ser feliz no teu país. Eu gostava de estudar no estrangeiro. Mas nunca serei como aqueles que partem e nunca mais regressam à Palestina. Sou totalmente contra essa ideia.
O pai:
- Imagina se todos os palestinianos partissem? O que nos aconteceria? O país ficaria vazio sem o seu povo. O principal objectivo da ocupação é manter o país nas mãos dos colonatos israelitas.
- Porque é que falamos sempre de política? - pergunta a filha ao pai. - De manhã dizes bom dia e começas a falar de política. Assim que nos sentamos aqui começamos a falar de política.
- A política é a minha vida.
- Política de manhã à noite.
- Aqui somos assim. Iremos sempre falar de política.”

À noite. Ouvem-se tiros a espaços.
Tamer:
“Os soldados entram no campo à noite, quando todos estão a dormir. Disparam, entram na casa das pessoas, prendem-nas e levam-nas nos jipes."
Agora ouvem-se gritos.
"Naquela noite procuravam alguém da minha idade. Não sei o que ele fez, mas temo que um dia seja a minha vez. Eles controlam tudo. Terra, electricidade, água. Se pudessem até controlavam o ar.”

O mais novo:
“- Mãe, posso sair um bocado?
- O que tens? - pergunta o pai. - Estás com calor?... Porque tens calor? Está frio.
- Está frio?
- Nem sequer estão 42 graus.
- Põe água em cima de mim. Põe água nas mãos e atira para cima de mim.
- Toma, meu filho - diz o pai, atirando-lhe com um copo de água... vazio. O miúdo protesta.
- A sério, não temos água para beber. Estás chateado porque não há água? É sempre assim.”
O pai para a mãe:
“- Sabes que a água corre o ano inteiro nas casas israelitas?
- Claro, são israelitas.
- Sabes que não têm tanques de água no telhado das casas?
- Têm o quê?
- Nada. Sai das torneiras. Só compram esquentadores."

Tamer:
“Ficámos três dias sem água. Estava tanto calor. Em casa e nas ruas a atmosfera estava tão tensa. A minha mãe já não aguentava. Quando finalmente a água voltou, ela passou três dias a lavar a casa e a nossa roupa. Só queria gritar ao mundo para nunca mais nos deixarem sem água tanto tempo. Faria qualquer coisa para a vida ser justa. Mas sinto-me tão impotente.”

Pai e filho visitam a campa do avô. Tamer:
“- Em que estás a pensar?
- No que estou a pensar?
- Sim.
- Lembro-me daquele tempo em que vivi aqui com o teu avô. Lembro-me do dia em que foi morto.
- Como foi que descobriste?
- Um amigo ligou-me do hospital. Deram-lhe 39 tiros com balas de alto calibre, com uma M16, na testa.
Tamer começa a chorar.
- Sabes que é um mártir, porque estás a chorar? O que pode ser melhor do que ser um mártir? Ele era um homem de 65 anos e morreu de uma forma bonita. Foi um mártir. É suficiente.
- Um mês antes do meu aniversário – diz Tamer entre lágrimas e soluços.
- Sim. Devias ter visto a cara dele quando o trouxeram do hospital, não acreditavas que ele estava morto. Não acreditavas.
- Porquê?
- Estava a sorrir. Tinha a cara mais natural que já vi no meu pai. Juro-te. Deus o abençoe. Foram 65 anos de ocupação e sofrimento, a trabalhar muito para alimentar a família. Ser expulso da sua aldeia e preso num campo é sofrimento suficiente... É suficiente.
- É o que eles nos querem fazer.
- Claro, querem que soframos, não querem que pensemos em mais nada. É por isso que te digo sempre para pensares na tua educação. É a melhor forma de resistires.”

Tamer:
“Naquele dia o meu pai disse-me: 'Ter uma escolha é ser livre.' Quero que o meu povo seja livre, mas que escolha temos? Que opção tenho eu?”

O pai regressa a casa à noite. Tamer espera-o.
“- Pai.
- Olá filho.
- Porque vieste tão tarde?
- Está tudo bem.
- Porque vieste tão tarde?... Não tens resposta? Tens?”

Nader, pai do Tamer:
“Infelizmente, hoje recebemos más notícias. Não nos deram autorização para ir a Jaffa, para ver o Mediterrâneo. Sem nenhuma explicação. Não nos deram nenhum motivo e não têm de explicar... Eu não quero destruir Israel, não quero destruir a América, não quero matar. Só quero ir ver o mar. Ao negar esta autorização às crianças, que não entendem política ou economia, a ocupação está provavelmente a criar inimigos ou futuros combatentes. As crianças nunca esquecerão que a ocupação os impediu de ir ver o mar. As crianças não podem nadar ou brincar no Mar Morto. Os seus sonhos não podem ser cumpridos. Mas vou levá-los lá na mesma. Vamos sentar-nos na praia e olhar para o mar, como lhes prometi. E vamos jogar cara ou coroa esperando ter sorte.”

Tamer:
“Ficámos muito desiludidos por não ir ao Mediterrâneo. Mas eu sabia que eles iam recusar. O Mar Morto fica na Cisjordânia, que em parte é a nossa terra. São apenas 30 km a partir daqui e lá não têm de lidar com o muro. Mas por causa dos postos de controlo nas estradas e dos colonatos vamos ter de fazer um grande desvio. É por isso que nunca lá fomos. Não era o mar com que estava a sonhar, mas fiquei contente por sair do campo e ver o meu país."

"- Onde estamos?
- Beit Sahour.
- Ah! Aquele é o colonato de Abu Ghnem?
- Sim. Tudo aquilo são colonatos.
- Tudo aquilo? Estás a brincar?
- Começaram com algumas casas e olha até onde chegaram."

Uma patrulha de soldados manda-os parar.
"- Pare, pare, pare!... Boa tarde... Abra o porta-bagagens.
- Não abre, está avariado.
- Então como carregou o carro?
- Por dentro. Não tem nada de especial, só os nossos bens pessoais.
- São só as nossas malas – diz a mãe.
- Quantos anos tem?
- Tenho 43 anos.
- É o seu filho?
- Sim.
- Isso mesmo, ele tem 43 anos – confirma outro soldado que lhe inspecciona os documentos.
- De onde vêm?
- De Belém.
- E para onde vão?
- Para o Mar Morto.
- Está tudo bem? - pergunta outro soldado.
- Sim, está tudo bem. Pode seguir. Adeus.”

Finalmente no Mar Morto. Tamer esfrega as costas do pai com lama.
“- A lama está tão suja.
- Não, está cheia de minerais.
- Talvez, mas também está suja.
- Não, meu filho.
- Olha! Porque é que é tão suja?
- É naturalmente assim.
- Não é natural, é por causa dos esgotos sujos.
O pai pega num bocado de lama e alisa-o.
- Vou fazer uma coisa... Está aqui uma tábua, escreve qualquer coisa.
- O quê?
- A primeira palavra de que te lembrares.
Tamer escreve qualquer coisa no pedaço de lama.
- Liberdade?
- É o que mais gosto.”

“Sou apenas um miúdo. Mas sei que para sobreviver aqui tenho de escolher rapidamente o meu caminho. Quero fazer as minhas opções, quero ser alguém, ser um cientista que estuda o céu e o espaço, ter filhos e contar-lhes a história do nosso povo. Mas pergunto-me sempre se terei oportunidade de viver esta vida ou se tudo acabará amanhã.”

 

Observatório do Mundo, uma noite destas, na TVI24

 

publicado por Mário Pereira às 13:35
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Sábado, 9 de Agosto de 2014

A triste natureza humana

Tenho observado com alguma tristeza e mesmo algum nojo que muitos dos jornalistas e comentadores que até há poucos dias endeusavam o Salgado, dizendo que era o único verdadeiro banqueiro do País e que o BES era seguríssimo e completamente distinto e imune às dificuldades do GES, dizem agora cobras e lagartos do homem, culpando-o por tudo o que de mau tem acontecido em Portugal.

Nada que me surpreenda, afinal fizeram exactamente o mesmo com o Sócrates. Bajularam-no enquanto o julgavam forte e bateram-lhe até mais não quando se tornou fraco e principalmente quando perdeu as eleições.

São estes os jornalistas, comentadores e “especialistas” que temos: péssimos a investigar, cobardes e bajuladores quando lidam com gente poderosa, valentes e cruéis quando essa gente cai em desgraça.

Infelizmente, são comportamentos típicos da natureza humana.

Esta história fez-me recordar outra, acontecida há 200 anos, que retrata a forma como um jornal parisiense noticiou a fuga de Napoleão da ilha de Elba e o seu fugaz regresso ao poder, que fui repescar aqui: e que, embora tendo ocorrido precisamente ao contrário, é bastante elucidativa da tal natureza humana e, especificamente, da comunicação social que tínhamos, que é mais ou menos igual à que temos.

"Os vinte dias de estrada de Napoleão, da costa sul a Paris, são um caso de estudo que merece chegar a hoje. O regresso de Napoleão Bonaparte foi ilustrado em letra de imprensa, de forma que deslustra a imprensa mas mostra o género humano em retrato nítido. O jornal parisiense Le Moniteur narra, passo a passo, o avanço de Napoleão. Os títulos sucessivos vou alinhá-los:

1) «O antropófago saiu do seu covil.»

2) «O ogre da Córsega acaba de desembarcar no golfo Juan.»

3) «O tigre chegou a Gap.»

4) «O monstro dormiu em Grenoble.»

5) «O tirano atravessou Lyon.»

6) «O usurpador foi visto a sessenta léguas da capital.»

7) «Bonaparte avança a passos largos, mas nunca entrará em Paris.»

8) «Napoleão estará amanhã nas nossas portas.»

9) «O imperador chegou a Fontainebleau.»

10) «Sua Majestade Imperial entrou ontem no Castelo das Tulherias, no meio dos seus súbditos fiéis.»"

publicado por Mário Pereira às 22:55
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Domingo, 3 de Agosto de 2014

Estamos entregues às mafias bancárias

Dizem os entendidos que os bancos não podem falir, porque pela sua dimensão isso teria repercussões muito negativas na economia, arrastando também para a falência pessoas e empresas em grandes quantidades.

Os mesmos "entendidos" (é melhor pôr entre aspas, porque na verdade os gajos não percebem nada de merda nenhuma) dizem que o que tem falhado não é a regulação, mas sim a honestidade dos banqueiros. As regras existentes são boas e suficientes, o Banco de Portugal está cheio de gente muito competente (e não de canalha incompetente e corrupta arregimentada pelos partidos do "arco da governação"), mas quando os dirigentes dos bancos são desonestos não há nada a fazer. Resume-se tudo isto a casos de polícia.

Entretanto, a ASAE, nunca vista nem achada em nada que diga respeito a bancos, continua a sua saga contra as micro e pequenas empresas. Desta vez apreendeu sete mil queijos, ainda por cima de cabra (hum!), por falta de... licenciamento.

Voltando à vaca fria, isto é, às mafias bancárias, tivemos nos últimos anos em Portugal - cito de cabeça, sem qualquer preocupação de ser exaustivo - polémicas com os seguintes bancos privados:

O Totta foi vendido aos espanhóis logo após a privatização, num processo muito polémico.

O BPN...

O BPP...

O Banif teve uma guerra entre familiares depois da morte do seu presidente, sendo posteriormente salvo pelo Estado, à nossa custa.

O BCP enfrentou uma série de guerras internas no final do consulado do Jardim Gonçalves, que sofreu várias condenações, sofreu uma fortíssima desvalorização e conseguiu (até agora) sobreviver à custa do dinheiro que a troika lá meteu e que nós estamos a pagar.

O BES...

Salva-se neste descalabro geral o BPI. Por enquanto.

E a Caixa.

Aliás, a Caixa fartou-se de emprestar milhões e milhões a investidores noutros bancos. Por enquanto, parece que foi só isso.

Conclusões, para mim, são duas.

1. Os bancos querem-se como as sardinhas, pequeninos. Assim como as Caixas Agrícolas, que se têm mantido até agora imunes a esta peste e que cumprem perfeitamente a sua função: guardam as nossas poupanças e emprestam às pessoas e às empresas. Simples.

2. Qual é a vantagem de termos bancos privados, se quando eles dão lucros os accionistas é que embolsam os milhões e quando dão prejuízos não há accionistas que se cheguem à frente e a gente é que tem que entrar?

 

publicado por Mário Pereira às 00:50
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