Ao contrário do que muita gente diz, a troika e o FMI - que tem feito coisas destas por todo o mundo - normalmente atingem os seus objectivos.
A questão é que esses objectivos - obrigar os países devedores a pagarem as suas dívidas... com juros bem altos - passam obrigatoriamente por baixar o nível de vida das pessoas.
E porque é que eles querem que as pessoas ganhem menos? Simples, porque assim reduz-se o consumo e sobra mais dinheiro para se pagar aos credores. É mais fácil e, principalmente, mais rápido do que as alternativas, que são duas: prolongar a dívida no tempo, diminuindo assim as prestações, ou aumentar a produção do país, de forma que este consiga pagar mais depressa.
Na perspectiva da troika, esta redução dos salários impõe-se sobretudo na Função Pública, uma vez que são as despesas do Estado que se querem reduzir.
Mas relativamente ao sector privado, claro, também dá jeito. Como a qualidade média dos gestores das nossas empresas deixa muito a desejar, a única forma de aumentar a competitividade destas é reduzir os custos de produção. Ora, como os impostos e a energia são sagrados - ou melhor, podem ser mexidos... desde que para cima -, resta actuar sobre o lado mais fraco, os desgraçados dos trabalhadores.
Para a troika, portanto, tudo está no bom caminho.
Resta saber se, para o povo português, estas manifestações de hoje foram um acto isolado ou apenas o início do acordar de um longo torpor.
Porque uma coisa é certa: se o povo continuar a ser mole, o governo, guarda avançada da troika e dos grandes poderes económicos, vai continuar a carregar...
Se a era do consumismo, do oásis, da democracia de sucesso medida pelo número de electrodomésticos de cada um, do triunfo do individualismo medido pelo tamanho da casa, do modelo do carro, do exotismo do sítio em que cada um passou as suas férias, tudo pago com recurso a créditos ilimitados impingidos pelos bancos, se tudo isso acabou, não resta às pessoas outra possibilidade que não seja deixarem de se comportar como indivíduos, cada qual para si, e unirem-se em defesa das poucas conquistas que ainda não perderam e da recuperação das muitas que já lá vão.
Foi isso que hoje se viu nas muitas manifestações que ocorreram pelo país fora, com gente de todos os sectores da nossa sociedade. Gente do público e do privado, gente activa, desempregada e reformada, gente com salários em dia e em atraso, gente com salários altos e baixos, gente com licenciaturas e sem elas, gente de esquerda e de direita...
A nossa paciência chegou ao fim. A credibilidade deste governo acabou de vez. Agora, outras manifestações terão que acontecer. Provavelmente, terão também que ser convocadas algumas greves.
As principais conquistas da humanidade não se fizeram sem luta. O próprio 1.º de Maio, este ano estranhamente comemorado, entre nós, num misto de frebre consumista e de corrida desesperada aos alimentos, teve origem - é bom que não o esqueçamos - numa luta dos trabalhadores por melhores condições laborais. Essa luta foi duramente reprimida, por parte da polícia e dos patrões, e teve como consequência um elevado número de vítimas.
O sacrifício dessas vítimas não foi, felizmente, em vão.
Esperemos que desta vez não seja necessário ir tão longe.
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