Qualquer pessoa que procure não se deixar levar pelo preconceito facilmente perceberá que não pode haver nenhuma lei a impedir casais homossexuais de adoptarem crianças. Portanto, é uma questão de tempo até isso acabar. E porque é que não pode? Por várias razões. Por exemplo:
1) A Constituição não o permite:
“Constituição da República Portuguesa – Artigo 13.º – Princípio da igualdade
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.”
2) Cada vez são mais as crianças que não têm consigo, no dia-a-dia, um pai e uma mãe de corpo inteiro. Ou porque eles se separaram, ou porque um deles é mais ausente do que presente, ou porque o ambiente familiar é mau, ou ainda porque um deles morreu. E, apesar disso, as crianças vivem.
3) Uma pessoa “bem casada”, ou seja, casada com pessoa de outro sexo, pode perfeitamente ser homossexual. Nada o impede, apenas se presume que não o seja.
4) Uma pessoa solteira, viúva ou divorciada pode adoptar uma criança, mesmo que seja homossexual. Basta que não o assuma.
Com esta lei, estamos apenas a impedir os homossexuais assumidos (mais que assumidos: casados) de adoptarem crianças. Quanto aos que, sendo-o, o escondem, nada a fazer, certo?
Ora bem, o que interessa é o interesse das crianças. Certo? Então, quem se indigna muito com estas questões da adopção – como antes se indignou com as questões do aborto, ou melhor, não do aborto em si, que desde sempre se realizou, na maioria das vezes sem quaisquer condições, mas com a despenalização do aborto –, que se indigne com as condições em que vivem tantas crianças com pai e mãe. Para não falar nos que vivem nas Casas Pias deste desgraçado País (por falar nisso: alguém pode garantir que não voltaram a acontecer lá violações?).
Há quem diga que é mau para o equilíbrio psicológico e emocional das crianças viverem com dois pais ou duas mães. Não sou psicólogo, mas parece-me que as crianças com deficiência, ou filhas de pai/mãe deficiente, ou anã, ou de raça negra, por exemplo, também têm que conviver com isso. O mesmo se passa com os feios, com os gordos, etc. É a vida… Uma das grandes vantagens que têm as vítimas destes e de outros preconceitos é que isso contribuirá certamente para que seja menos provável que elas próprias se tornem também preconceituosas.
Quanto ao facto de essa “coisa” da homossexualidade se pegar por simpatia, os especialistas são unânimes em afirmarem que não. Até porque parece que a homossexualidade não é uma escolha, mas sim uma condição que nasce com as pessoas. Ah e tal, mas o exemplo dos pais/mães pode levar a criança, chegada a adolescência, a desejar ter experiências homossexuais. E? Quantos o fazem, mesmo tendo pais normais? Mesmo que esta “coisa” se pegue, qual é o problema? O que conta é a felicidade das pessoas… ou não?
Para concluir, o que está aqui em causa, como estava no caso do aborto, é a liberdade das pessoas fazerem o que quiserem com a sua vida. Uns defendem essa liberdade. Outros não. É simples. E, por muitos argumentos que arranjem (e arranjam, porque não são gagos), tudo se resume a uma palavra: PRECONCEITO! Sempre assim foi, sempre assim será. Felizmente, apesar disso, o mundo tem avançado. Lentamente, por vezes com retrocessos. Mas avança. Também neste caso assim acontecerá. Dêmos tempo ao tempo e quem lá chegar verá.
PS - O PS votou maioritariamente a favor dos dois projectos do Bloco e dos Verdes. Mesmo no PSD e no CDS houve quem o fizesse. Apenas no PC, para não variar, houve unanimidade: votou contra! Decididamente, pluralismo é palavra estranha para esta gente. São sempre todos da mesma opinião, como se tivessem apenas uma cabeça. Quem ousar discordar da pensamento dominante já sabe: rua...